pergunto ao gato
tens uma rima
que rime com alçapão
ele diz-me
agora não posso
vem aí o cão
pergunto ao rato
tens uma rima
que rime com sapato
ele diz-me a erguer o nariz
logo, mais logo
estou a sentir cheiro do gato
pergunto ao meu cão
tem uma rima
que rime com gato
ele diz-me
deixa-me dormir
deixa de ser chato
sábado, 20 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Palavras para uma fotografia
O homem irado enxota a memória. É como uma árvore a preto e branco. Entenda-se: uma árvore a preto e branco não tem claridade, assusta. Como a fúria encenada deste homem. Parece fardado, parece um militar. A ira, no entanto, rouba-lhe a autoridade. E nada, nada existe mais perigoso do que um fardado destituído de poder: é capaz de tudo: de disparar pelas costas, de te perseguir em contramão na auto-estrada. Os homens irados, volto a dizer, flagelam a memória. Vê como este homem e sua farda verde emergem da noite. Não, não é a chave (inglesa?), quase tridente de gladiador, nem a mão garra de rapina, que te cativa, que te assombra. A fúria do homem habita-lhe os olhos: esferas de fogo prestes a explodir. Mas, repara bem, a boca, em forma de estertor de peixe, esbate a perspectiva de violência. O homem fardado, afinal, tem medo. Observa de novo: a garra de rapina, a chave (inglesa?) na mão, agora como se fosse lasca de sílex, o mesmo olhar gaseado (esquece a farda). Um homem predador surde, entre a coragem e o medo, contra a manada de auroques: se tresmalha um, precipita-se no desfiladeiro rochoso. Quem porfia na encenação da fúria mata caça. Ele regressa à tribo: traz as mãos ensanguentadas e um pedaço do boi esquartejado a golpes de pedra afiada. O troféu sacia a fome da comunidade nómada, e o caçador ascende na hierarquia social – sabe tirar proveito do medo dos outros animais, será o chefe. Aqui, o homem irado, não esbanja a memória: começa a sedimentá-la no vagar de aluvião. Não é isso que vês no homem: a brancura da sigla na roupa anula a ideia de farda. Ele é um paisano, um não militar, falso troglodita. Encena a fúria, como sabes. A ira toda, a insânia a estralejar nos olhos, boca de peixe a engolir a morte. Observa a mão que segura a chave: antes foi arma de reciário apontada a transido gladiador caído na arena, depois lasca de sílex. Afinal, é pormenor inofensivo. Ninguém, que pretenda atacar o outro, empunha a chave desta maneira, ao arrepio das leis da física, como quem segura a faca pelo gume. Lentamente, como uma árvore, ele retoma a memória: a luz é mais forte do que a noite.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
O voo das árvores
as árvores andam
devagar. são como homens
embora não voem. na primavera
as árvores emigram
plenas de juventude
os homens envelhecem
mesmo enamorados
devagar. são como homens
embora não voem. na primavera
as árvores emigram
plenas de juventude
os homens envelhecem
mesmo enamorados
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Devocionário
Cereja,
rubra palavra, sinónimo mais doce de Maio.
rubra palavra, sinónimo mais doce de Maio.
Etiquetas:
Devocionário para as crianças
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