sábado, 31 de julho de 2010

Cacela

na noite cálida
o silêncio dos gatos
de cacela
protegido pelo rumor
da buganvília.
nada os perturba
nem o frenesim das cigarras
nem a delicadeza dos turistas.

domingo, 18 de julho de 2010

Patos bravos

agora o verão
nenhuma palavra caída
no lugar de lapela


nunhum lugar remoto
que desperte a memória
os patos bravos
na fímbria da noite
voam para o sul.

A cidade

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Açafate ou tangerina

dá-me só mais uma rima
para a travessia do verão
pode ser brisa marinha
refresco de limão
ou a sombra de choupo
uma rima pela tardinha
uma rima
só mais uma rima
a água doce e fria
do rio da minha terra
açafate ou tangerina
paúl rente à serra
dá-me só mais uma
porque agora é verão
cresce a abóbora-menina
sobressalta o coração
uma rima infantil
levo-a no açafate
ao lado do pão
e do vinho no cantil