sábado, 25 de maio de 2013

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tenho tantos amigos no facebook
estou tão sozinho.

domingo, 19 de maio de 2013

Os frutos de maio


Por não saber alcançar os ramos mais altos abraçado ao tronco, como faziam os meus amigos de infância, destros e corajosos, trouxe as árvores a pastar na escrita. Desamarradas da terra, as árvores voam. Chegam depois as aves, a cabra, os meus gatos e outros bichos. De repente, deparo: o tempo, as marcas do tempo: abro o portão de uma remota brévia, procuro repouso, água fresca, palavras como perdigueiros cheios de melancolia. Uma sebe de muitos anos separa o poema distante do mais recente. Pouco importa. Nasci, para que conste, numa aldeia cingida por serranias. Um dos montes tem este nome: Marouço. Os fabulosos pastores de tempos antigos, quando o mundo era movido a tracção animal, diziam ouvir do cume dessa serra, a muitas léguas de lonjura, os murmúrios do mar.



A Fome Apátrida das Aves, pref. Manuel Gusmão, ed. Modo de Ler, maio 2013




sábado, 18 de maio de 2013

Verossímil

Antigamente, em maio, eu virava anjo.
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
"Canta alto, espevita as palavras bem."
Eu levantava vôo rua acima.



Adélia Prado

Bagagem, Ed. Guanabara