sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Tangerinas

*

A cuidar de vícios,
como de árvores de fruto,
pode-se aceder a um noticiário,
por desfastio,
ou para que as neves do Ártico
não derretam
sem que chegue a informação,
ou para escapar brevemente
à tentação do absurdo,
que é ainda, com o azar,
a melhor explicação das perdas
na roleta, imagino tangerinas
num pomar do sul da europa -
o cheiro do mar e do sol
e muitas moscas.

José Alberto Oliveira
PIOLHO, revista de poesia, 11

sábado, 25 de janeiro de 2014

Dois Poemas Políticos


*
PÃO




mãe, tenho fome.


*
LIBERDADE


nome de avenida
altas árvores
o vago passo do desempregado
apavora as pombas.



Barricadas de Estrelas e de Luas
Antologia poética no Centenário
da Primeira Grande Guerra
ed. Tropelias & Companhia

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

[Guarda a manhã]

*

Guarda a manhã
Tudo o mais se pode tresmalhar


Porque tu és o meio da manhã
O ponto mais alto da luz
Em explosão



Daniel Faria
Explicação das Árvores e de Outros Animais
ed. Fundação Manuel Leão, 1998

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

[A voz emboscada nos livros]


Não há um amigo
perto. Outros pés
não há que tragam
o ir e o vir
de um milhar de ruas

Há uma boca
industrial e devora
a raiva toda
dos lugares.

Há a voz emboscada
nos livros por ler
os pulsos que não
nos levam já
a qualquer carta
pelo menos hoje
pelo menos carta.

Há as mães acordadas
e emigram connosco
noite após noite
para o dia seguinte

e a cicatriz que cose
pela face alguns
remendos doutras
companhias.

Victor Matos e Sá
Companhia Violenta, ed. Centelha, 1980

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

[A libelinha]

 *

Uma libélula vermelha.
Tirai-lhe as asas:
Oh! Um pimento!...

Kikaku
*

(correcção)

Um pimento vermelho.
Dai-lhe umas asas:
Oh! Uma libélula!...

Basho

Poemas Orientais
Hai-kais japoneses
Trad. Casimiro de Brito
Colecção "A Palavra"- 5
Faro, 1962