quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Herança
Tinhas penas de pássaro
a cobrir cada um dos olhos negros
Tinhas nas veias verdes
o som do quebrar
de um galho seco
Tinhas dois pés de raiz
vento nos mil cabelos
tinhas numa mão o norte
na outra mão era o sul
e só me deixaste a nobreza
das árvores de seiva azul
Rita Taborda Duarte
Poética Breve
Black Sun Editores, 1998
Etiquetas:
Poética breve,
Rita Taborda Duarte
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
[Ocupação da palavra]
*
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo).
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos,
retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
Manoel de Barros
O Guardador de Águas
Editora Record, 1998
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo).
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos,
retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
Manoel de Barros
O Guardador de Águas
Editora Record, 1998
Etiquetas:
a poesia é um animal,
Manoel de Barros,
viático
[Sono alado]
na página branca
de cal. branco.
mexe - para alegria dos pássaros
pousados nas linhas
da mão aberta - deitado de sono
alado. é de mão, é de cal
que liberta.
Óscar Possacos
Cantaria
ed. associação dos jornalistas
e homens de letras do porto, 2014
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Venho de um sul
Vim ao leste
dimensionar a noite
em gestos largos
que inventei no sul
pastoreando mulolas e anharas
claras
como coxas recordadas em Maio.
Venho de um sul
medido claramente
em transparência de água fresca de amanhã.
De um tempo circular
liberto de estações.
De uma nação de corpos transumantes
confundidos
na cor da crosta acúlea
de um negro chão elaborado em brasa.
Ruy Duarte de Carvalho
A decisão da idade
ed. Sá da Costa, 1977
dimensionar a noite
em gestos largos
que inventei no sul
pastoreando mulolas e anharas
claras
como coxas recordadas em Maio.
Venho de um sul
medido claramente
em transparência de água fresca de amanhã.
De um tempo circular
liberto de estações.
De uma nação de corpos transumantes
confundidos
na cor da crosta acúlea
de um negro chão elaborado em brasa.
Ruy Duarte de Carvalho
A decisão da idade
ed. Sá da Costa, 1977
Etiquetas:
Angola,
corpos transumantes,
Ruy Duarte de Carvalho,
sul
sábado, 8 de novembro de 2014
Do mar se faz voz
*
hoje é o dia
como se fosse o primeiro
atravesso a manhã
envolto na luz
leve luz do outono
tiro a senha
aguardo a minha vez
de me tornar desempregado
há pessoas a correr
na marginal
o rumor do mar se faz voz
de tudo
e de todas as coisas
hoje é o dia
como se fosse o primeiro
atravesso a manhã
envolto na luz
leve luz do outono
tiro a senha
aguardo a minha vez
de me tornar desempregado
há pessoas a correr
na marginal
o rumor do mar se faz voz
de tudo
e de todas as coisas
Etiquetas:
os dias imperfeitos,
Vila do Conde
terça-feira, 4 de novembro de 2014
As chuvas
o verão
tardio afasta-se
as
chuvas tomam-lhe o lugar
e eis os
estorninhos
sob o
céu cinzento
um bando
vasto que se comprime e se alonga
como o
que vi a esvoaçar
nas
primeiras páginas de alegria breve
que fome
antiga junta
as aves nos dias de borrasca?
é o lume
dos frutos
frugal
doçura do outono
árvore,
quatro de novembro 2014
Etiquetas:
Alegria Breve,
estorninhos,
Vergílio Ferreira,
Vila do Conde
Subscrever:
Mensagens (Atom)