terça-feira, 30 de junho de 2015

Torga e a União Europeia



Miguel Torga  deixa registado o seguinte, no seu Diário,  em 2 de Janeiro de 1993: [...] ocupados sem resistência e sem dor. Anestesiados previamente pelos invasores  e seus cúmplices, somos agora oficialmente europeus de primeira, espanhóis de  segunda e portugueses de terceira.
Ainda Torga, no mesmo Diário: Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de  uma Europa sem valores. 

Miguel Torga

Resistência grega

Dois soldados motoristas alemães chegaram às portas de Atenas. Ordenaram a um rapazinho que subisse a uma torre e arriasse a bandeira, envolveu-se nela e atirou-se do alto da torre. No mesmo momento em que começava a ocupação da Grécia começava também a resistência. Era o mês de Abril do ano de 1941. A história dos gregos contemporâneos é um calvário. (...)


Eduardo Haro Tecglen,
 escrito em 1969, para o livro
 Grécia, Ano Quinto, Pub. Dom Quixote, 1972

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A Grécia à frente


O povo grego não é um povo complacente
O fogo disparado sobre ele é-lhe vitória
Os mais pequenos entre eles são loucos
Por liberdade razão e sua força


Ao longo da grandeza humana têm mãos
Para oporem aos punhos pés contra as garras
À guerra opõem eles a mãe-justiça
E a necessidade os guia e os ensina


A Grécia é um país sem arroios para os ratos
Ali não tem a peste túmulos consagrados
Não faz medo viver não estende sombra a morte
Lutar pelo que é seu apaga o tempo-noite


Neste cume da terra no coração da luz
O povo todo unido abre uma porta imensa
Para a paz desarmada e é aí que sucumbem
Os bárbaros aí que secará seu sangue

Na aragem do mar flor da fraternidade.

Paul Éluard

poemas políticos,  ed. Presença
trad. Carlos Grifo

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Coração vegetal



“Tu disseste: olha o jacarandá florido, fica  rente à felicidade. Um dia chegarás ao seu coração vegetal, apertado: achas a luz, a claridade das árvores bebida pela raiz –   limpidez  resgatada do âmago da terra”.
 Uma história do medo (“que  animal é o medo?”), da clandestinidade política, de afetos e traições. Da tortura, da mais bárbara tortura e da perigosa arte do silêncio (não rachar) perante os torturadores. O romance parte de um facto real: o assassinato de um “proprietário e capitalista ”, dizem os jornais da época, na  Rua do Bonjardim, no Porto.  Crime mal esclarecido, que a polícia política se apressa a atribuir a  “grupo de malfeitores” comunistas e a três refugiados rojos da guerra civil de Espanha.  
Jaracandá decorre no início dos anos quarenta,  um dos  períodos de maior crueldade do fascismo português, respaldado numa sociedade apavorada, e num jornalismo subserviente, mentiroso, infame. Afinal, quem foram os autores do “Crime do Bonjardim”?  Porque desapareceu o processo, julgado em Tribunal Militar Especial Político, do Arquivo Histórico Militar?
Ed. da Teodolito, chancela do grupo edições afrontamento, junho de 2015.

sábado, 6 de junho de 2015

[Rumbles]

 *

Poderei falar-te do olhar,
   nunca guiar-te os olhos
 ou desmanchar os sonhos.


João Manuel Ribeiro

Burburinhos/ Rumbles
ed. Busílis

terça-feira, 2 de junho de 2015

Acordo

Não é honesto fazer da língua portuguesa
mais um "Padrão" dos Descobrimentos.
Não é nossa. E de todos os que a utilizam
e a recriam.

Inquérito DN Literário
1 de Setembro de 1991